CHEGOU A VACINA. MAS NÃO SERÁ PARA O POVO BRASILEIRO - Então, temos a primeira vacina. Tudo indica que dia 7 de dezembro o Reino Unido começará a vacinar sua população com a primeira vacina aprovada, da Pfizer-BioNTech. E agora eu vou explicar pra vocês porque o que muitos de nós, cientistas, estamos falando há meses, sobre o fato de que não podemos balizar nossas ações no Brasil na chegada de uma vacina, se torna mais real. Porque para nós, brasileiros, isso não será uma realidade próxima. E é agora que grande parte da população vai pagar por suas escolhas políticas, inclusive os que não escolheram o cenário atual.
Pra vacinar 200 milhões de pessoas, ou o equivalente, são necessários, no mínimo, 200 milhões de agulhas e 200 milhões de seringas. Já pensaram sobre isso? Não temos essa quantidade, não temos nem metade disso. O que significa que o Ministério da Saúde e o Governo Federal deveriam estar, há meses, negociando a compra do estoque destes suprimentos. Mas não estão. A única coisa que foi feita nesse sentido foi em agosto, quando o Governo Federal manifestou interesse em comprar 80 milhões desses suprimentos, sem efetivar o negócio. Agora é a hora que precisaríamos ter inteligência sanitária, epidemiológica e científica estruturada dentro do Governo Federal, para tomar essas decisões estratégicas. E não temos, sequer temos um Ministro da Saúde.
Isso por si só já é bastante sério, mas infelizmente não é o único entrave. A vacina da Pfizer-BioNTech precisa ficar armazenada a -70 graus ou perde eficácia e estabilidade. O Brasil não tem como estocar essa quantidade de vacina nesta temperatura. Os equipamentos de armazenamento vacinal brasileiros chegam a, apenas, -20 graus Celsius. Não temos equipamento. E, sinto muito te dizer, mas o freezer que refrigera a sua mamadeira de piroca não atinge essa temperatura, não vai dar pra ser utilizado.
E como se tudo isso já não fosse grave o suficiente, tem a principal questão: a negociação política e financeira da compra de milhões de doses. Essa compra seria indiscutível para governos que se orientam por princípios científicos, epidemiológicos e sanitários coerentes. Não é o caso do governo atual. Ou vocês acham que um governo que considera uma pandemia que matou mais de 170 mil do seu próprio povo uma "gripinha" estará empenhado nesta negociação?
E como se tudo isso já não constituísse um cenário preocupante, ainda tem a questão delicada, fundamental e altamente estratégica da prioridade vacinal. Qual será a prioridade, quem será vacinado primeiro, qual será o plano de prioridade? Ou você acha que vai poder chegar no postinho a qualquer hora e fazer a sua vacinação e do seu filho? Nada está sendo feito no sentido de traçar as prioridades vacinais no Brasil. O que significa: povo sem vacina.
A conta tá chegando.
E será exorbitante.
Para termos vacina para o povo brasileiro até o fim do primeiro semestre de 2021, todas as negociações deveriam estar sendo realizadas agora. Não é só compra de vacina, como eu acabei de explicar. É muito mais. Mas o
Governo Federal brasileiro tá mais preocupado em extinguir as bolsas PIBIC da área de humanas... Vejam o que fizeram com o Brasil.
Via
Ligia Moreiras